Entendendo a Cloud Computing

  Estamos habituados a utilizar aplicações instaladas em nossos próprios computadores, assim como a armazenar arquivos e dados dos mais variados tipos neles. No ambiente corporativo, esse cenário é um pouco diferente, já que nele é mais fácil encontrar aplicações disponíveis em servidores que podem ser acessadas por qualquer terminal autorizado por meio de uma rede. A principal vantagem desse modelo está no fato de ser possível, pelo menos na maioria das vezes, utilizar as aplicações mesmo sem acesso à internet ou à rede. Em outras palavras, é possível usar esses recursos de maneira off-line. Entretanto, todos os dados gerados estarão restritos a esse computador, exceto quando compartilhados em rede, coisa que não é muito comum no ambiente doméstico. Mesmo no ambiente corporativo, isso pode gerar algumas limitações, como a necessidade de se ter uma licença de um determinado software para cada computador, por exemplo.

  A evolução constante da tecnologia computacional e das telecomunicações está fazendo com que o acesso à internet se torne cada vez mais amplo e cada vez mais rápido. Em países mais desenvolvidos, como Japão, Alemanha e Estados Unidos, é possível ter acesso rápido à internet pagando-se muito pouco. Esse cenário cria a situação perfeita para a popularização da Cloud Computing, embora esse conceito esteja se tornando conhecido no mundo todo, inclusive no Brasil.

  Com a Cloud Computing, muitos aplicativos, assim como arquivos e outros dados relacionados, não precisam mais estar instalados ou armazenados no computador do usuário ou em um servidor próximo. Esse conteúdo passa a ficar disponível nas "nuvens", isto é, na internet. Ao fornecedor da aplicação cabe todas as tarefas de desenvolvimento, armazenamento, manutenção, atualização, backup, escalonamento, etc. O usuário não precisa se preocupar com nada disso, apenas com acessar e utilizar.

  Um exemplo prático desta nova realidade é o Google Docs, serviço onde os usuários podem editar textos, fazer planilhas, elaborar apresentações de slides, armazenar arquivos, entre outros, tudo pela internet, sem necessidade de ter programas como o Microsoft Office ou OpenOffice.org instalados em suas máquinas. O que o usuário precisa fazer é apenas abrir o navegador de internet e acessar o endereço do Google Docs para começar a trabalhar, não importando qual o sistema operacional ou o computador utilizado para esse fim. Neste caso, o único cuidado que o usuário deve ter é o de utilizar um navegador de internet compatível, o que é o caso da maioria dos browsers da atualidade.

Algumas características da Cloud Computing

  Conforme já dito, uma das vantagens da Cloud Computing é a possibilidade de utilizar aplicações diretamente da internet, sem que estas estejam instaladas no computador do usuário. Mas, há outras significativas vantagens:

- na maioria dos casos, o usuário pode acessar determinadas aplicações independente do seu sistema operacional ou de hardware;

- o usuário não precisa se preocupar com a estrutura para executar a aplicação: hardware, procedimentos de backup, controle de segurança, manutenção, entre outros, ficam a cargo do fornecedor do serviço;

- compartilhamento de dados e trabalho colaborativo se tornam mais fáceis, uma vez que todos os usuários acessam as aplicações e os dados do mesmo lugar: a "nuvem". Muitas aplicações do tipo já são elaboradas considerando essas possibilidades;

- dependendo do fornecedor, o usuário pode contar com alta disponibilidade, já que, se por exemplo, um servidor parar de funcionar, os demais que fazem parte da estrutura continuam a oferecer o serviço;

- o usuário pode contar com melhor controle de gastos. Muitas aplicações em Cloud Computing são gratuitas e, quando é necessário pagar, o usuário só o fará em relação aos recursos que usar ou ao tempo de utilização. Não é, portanto, necessário pagar por uma licença integral de uso, tal como acontece no modelo tradicional de fornecimento de software;

- dependendo da aplicação, o usuário pode precisar instalar um programa cliente em seu computador. Mas, neste caso, todo ou a maior parte do processamento (e até mesmo do armazenamento de dados) fica por conta das "nuvens".

  Note que, independente da aplicação, com a Cloud Computing o usuário não necessita conhecer toda a estrutura que há por trás, ou seja, ele não precisa saber quantos servidores executam determinada ferramenta, quais as configurações de hardware utilizadas, como o escalonamento é feito, onde está a localização física do datacenter, enfim. O que importa ao usuário é saber que a aplicação está disponível nas nuvens, não importa de que forma.

Software as a Service (SaaS)

  Intimamente ligado à Cloud Computing está o conceito de Software as a Service (SaaS) ou, em bom português, Software como Serviço. Em sua essência, trata-se de uma forma de trabalho onde o software é oferecido como serviço, assim, o usuário não precisa adquirir licenças de uso para instalação ou mesmo comprar computadores ou servidores para executá-lo. Nesta modalidade, no máximo, paga-se um valor periódico - como se fosse uma assinatura - somente pelos recursos utilizados e/ou pelo tempo de uso.

  Para entender melhor os benefícios do SaaS, suponha que uma empresa que tem vinte funcionários necessita de um software para gerar folhas de pagamento. Há várias soluções prontas para isso no mercado, no entanto, a empresa terá que comprar licenças de uso do software escolhido e, dependendo do caso, até mesmo hardware para executá-lo. Muitas vezes, o preço da licença ou mesmo dos equipamentos pode gerar um custo alto e não compatível com a condição de porte pequeno da empresa.

  Se, por outro lado, a empresa encontrar um fornecedor de software para folhas de pagamento que trabalha com o modelo SaaS, a situação pode ficar mais fácil: essa companhia poderá, por exemplo, oferecer esse serviço através de Cloud Computing e cobrar apenas pelo número de usuários e/ou pelo tempo de uso. Dessa forma, a empresa interessada paga um valor baixo pelo uso da aplicação. Além disso, hardware, instalação, atualização, manutenção, entre outros, ficam por conta do fornecedor. Também é importante levar em conta que o intervalo entre a contratação do serviço e o início de sua utilização é extremamente baixo, o que não aconteceria se o software tivesse que ser instalado nos computadores do cliente. Este só precisa se preocupar com o acesso ao serviço (no caso, uma conexão à internet) ou, se necessário, com a simples instalação de algum recurso mínimo, como um plugin no navegador de internet de suas máquinas.

  IBM e HP são dois exemplos de companhias que já oferecerem soluções em SaaS: HP SaaS; IBM SaaS. Há também conceitos derivados, utilizados por algumas companhias para diferenciar os seus serviços, entre eles:

- Platform as a Service (PaaS): Plataforma como Serviço. Trata-se de um tipo de solução mais amplo para determinadas aplicações, incluindo todos (ou quase todos) os recursos necessários à operação, como armazenamento, banco de dados, escalabilidade (aumento automático da capacidade de armazenamento ou processamento), suporte a linguagens de programação, segurança e assim por diante;

- Database as a Service (DaaS): Banco de Dados com Serviço. O nome já deixa claro que esta modalidade é direcionada ao fornecimento de serviços para armazenamento e acesso de volumes de dados. A vantagem aqui é que o detentor da aplicação conta com maior flexibilidade para expandir o banco de dados, compartilhar as informações com outros sistemas, facilitar o acesso remoto por usuários autorizados, entre outros;

- Infrastructure as a Service (IaaS): Infraestrutura como Serviço. Parecido com o conceito de PaaS, mas aqui o foco é a estrutura de hardware ou de máquinas virtuais, com o usuário tendo inclusive acesso a recursos do sistema operacional;

- Testing as a Service (TaaS): Ensaio como Serviço. Oferece um ambiente apropriado para que o usuário possa testar aplicações e sistemas de maneira remota, simulando o comportamento destes em nível de execução.

Exemplos de aplicações em Cloud Computing

  Os termos Cloud Computing e Computação nas Nuvens são relativamente recentes, como você já sabe, mas se analisarmos bem, veremos que a ideia não é, necessariamente, nova. Serviços de e-mail, como Gmail e Yahoo! Mail; discos virtuais na internet, como Dropbox; sites de armazenamento e compartilhamento de fotos ou vídeos, como Flickr e YouTube. Todos são exemplos de aplicações que, de certa forma, estão dentro do conceito de Cloud Computing. Note que todos esses serviços não executam no computador do usuário e este pode acessá-los de qualquer lugar, muitas vezes sem necessidade de instalar aplicativos em sua máquina ou de pagar licenças de software. No máximo, paga-se um valor periódico pelo uso do serviço ou pela contratação de recursos adicionais, como maior capacidade de armazenamento de dados, por exemplo.

  Abaixo, uma breve lista de serviços que incorporam bem o conceito de Cloud Computing:

- Google Apps: esse é um pacote de serviços que o Google oferece que contém aplicativos de edição de texto, planilhas e apresentações (Google Docs), serviço de agenda (Google Agenda), comunicador instantâneo integrado (Google Talk), e-mail com o domínio da empresa (por exemplo, contato@infowester.com), entre outros. Todos esses serviços são processados pelo Google e o cliente só precisa criar as contas do usuário. O Google Apps oferece pacotes gratuitos e pagos, de acordo com o número de usuários. Um dos maiores clientes do Google Apps é a Procter & Gamble, que contratou os serviços para mais de 130 mil colaboradores;

- Amazon: a Amazon é um dos maiores serviços de comércio eletrônico do mundo. Para suportar o volume de vendas no período de Natal, a empresa montou uma superestrutura de processamento e armazenamento de dados, que acaba ficando ociosa na maior parte do ano. Foi a partir daí que a companhia teve a ideia de "alugar" esses recursos, com serviços como o Simple Storage Solution (S3), para armazenamento de dados, e Elastic Compute Cloud (EC2), para uso de máquinas virtuais.

- Windows Live Mesh: esta é um tecnologia da Microsoft direcionada ao segmento doméstico. Sua proposta principal é a de permitir que o usuário acesse o seu desktop e seus documentos de qualquer computador, com a diferença de que todos os seus arquivos ficam nas nuvens, isto é, no servidores da Microsoft.

- Panda Cloud Antivirus: como o nome indica, este é um programa antivírus da Panda Software, mas com uma grande diferença: a maior parte do trabalho necessário à ferramenta para pesquisar e eliminar malwares fica por conta das "nuvens". Com isso, de acordo com a Panda, essa solução acaba evitando que o antivírus deixe o computador lento;

- Aprex: brasileiro, o Aprex oferece um conjunto de ferramentas para uso profissional, como calendário, gerenciador de contatos, lista de tarefas, disco virtual, blog, serviço de e-mail marketing, apresentações, entre outros. Tudo é feito pela Web e, no caso de empresas, é possível até mesmo inserir logotipo e alterar o padrão de cores das páginas. Há opções de contas gratuitas e pagas;

  iCloud: anunciado em junho de 2011, trata-se de um serviço da Apple que armazena músicas, fotos, vídeos, documentos e outras informações do usuário. Seu objetivo é o de fazer com que a pessoa utilize "as nuvens" em vez de um computador em sua rede como "hub" para centralizar suas informações. Com isso, se o usuário atualizar as informações de um contato no iPhone, por exemplo, o iCloud poderá enviar os dados alterados automaticamente para outros dispositivos.

Finalizando
.: Livros sugeridos :.
:: Cloud Computing: Computação em Nuvem
:: Computação em Nuvem: Uma Abordagem Prática

  Na verdade, qualquer tentativa de definir o que é Cloud Computing pode não ser 100% precisa. Isso porque as ideias por trás da noção de Computação nas Nuvens são muito novas e as opiniões de especialistas em computação ainda divergem. Mas a noção básica é a que foi explicada neste artigo.

  É claro que ainda há muita coisa por fazer. Por exemplo, a simples ideia de determinadas informações ficarem armazenadas em computadores de terceiros (no caso, os fornecedores de serviço), mesmo com documentos garantindo a privacidade e o sigilo, preocupam pessoas e, principalmente, empresas, motivo pelo qual esse ponto precisa ser melhor estudado. Além disso, há outras questões, como o problema da dependência de acesso à internet: o que fazer quando a conexão cair? Algumas companhias já trabalham em formas de sincronizar aplicações off-line com on-line, mas tecnologias para isso ainda precisam evoluir bastante.

  De qualquer forma, o futuro aponta para esse caminho. Além das mencionadas empresas neste artigo, companhias como Dell, Intel, Oracle e Microsoft já estão trabalhando nas mais variadas soluções para Cloud Computing. Esta última, por exemplo, já até anunciou o Azure, uma plataforma própria para a execução de aplicações nas "nuvens".

Saiba mais sobre o assunto nas páginas que serviram de referência para este texto:

- en.wikipedia.org/wiki/Cloud_computing;
- videos.techielife.com/what-is-cloud-computing/video-online/2008/11/13 (vídeo);
- knowledge.wpcarey.asu.edu/article.cfm?articleid=1614.